No primeiro mês de vida do meu filho eu vivi praticamente em prol dele e nesses três meses que se seguiram, não mudou muita coisa.
Judá precisava de mim para acordá-lo, a fim de ser alimentado e até hoje sou a sua única fonte de alimento, sempre disponível; dou banho, troco fraldas inúmeras vezes, elaboro as rotinas de sono, e atualmente tento fazer com que ele aprenda a desvirar, porque agora começou a virar de bruços, mas nem sempre tenho certeza se consegue voltar a posição anterior.
É algo pesado, mas incrível ao mesmo tempo, que um ser dependa tanto de nós. Mas frente aos lamentos que correm por aqui, logo vem um constrangimento avassalador diante do olhar desse pequeno ser.
Quando ele me olha, muitas vezes me sinto culpada por ousar achar minhas tarefas maternas difíceis. Sempre me derreto toda em suas expressões, seus sorrisos, seus gestos involuntários. Meu marido comentou que quando estou amamentando meu filho, ele me olha como quem me venera.
Ah, que sentimento sublime traz o olhar de veneração de um lindo bebê à sua mãe. Judá olha para mim apaixonadamente, me segue com os olhos quando passo por ele, ouve minha voz com atenção, chora suplicando que eu o pegue, o alimente, o coloque para dormir. Sou tão indispensável a ele como nunca fui a outro ser; sou um ser venerado por meu bebê, sou uma mãe.
Há ainda muitos meses pela frente e sei que, mesmo quando eu não for a única fonte para matar sua fome ou quando ele começar a espernear para sair do meu colo e andar por aí, ainda assim, eu serei para ele um ser perfeito. Nos primeiros anos, provavelmente, receberei desenhos cheios de rabiscos me chamando de “minha rainha” ou “a flor mais linda do meu jardim”; em sua inocência, serei vista por algum tempo assim: sem mácula, heroica e boa.
Mas não nos iludamos, minhas caras! Para minha decepção, chegará o dia em que ouvirei da mesma boca que me ovacionava, a afirmação de que “sou uma chata”, “mandona” ou algo que empaca a liberdade desse mesmo ser, que hoje me acha a melhor coisa do mundo.
Sou uma mãe venerada, mas... só por enquanto. Julgo que até nisso há a graça de Deus, que manifestada através de meu bebê, renova minhas forças para mais um dia intenso de cuidados e renúncias.
Paradoxalmente há graça também no desvendar dos olhos que veneram; Judá, em algum momento, saberá que, mesmo eu, sua mãe, tem muitos pecados, e saindo do posto de deusa passarei a ser mais um ser humano como ele, necessitado de salvação.
Benditas seremos nós, ao permitir que nossos filhos nos enxerguem como somos. Isso não fará de nós mães ruins, mas mães sinceras que não se apegam a algo que nos compare a uma divindade, antes apontam para o Deus verdadeiro, que nos achou e que pode achar nossos filhos. Nem mesmo Maria, a escolhida para dar a luz a Jesus, teve o lugar de veneração assegurado. Até a mãe do próprio Cristo, em sua humanidade e pecado, precisou de salvação.
Infelizmente, há mães que não permitem que seus filhos as enxerguem e numa luta cruel para não perder a veneração, castram a liberdade de ter um filho que ama verdadeiramente a mãe que tem, mesmo consciente de suas mazelas. Vez ou outra vejo-me diante do filho de alguém, preso a uma imagem irreal de sua própria mãe, incapaz de tirá-la do altar construído em negações e no medo de ver além da sombra divina que persegue a maternidade de muita gente.
Por um breve tempo poderemos usufruir de um olhar que nos venera, e há lugar para isso diante da dura caminhada materna. Há lugar para receber, sem merecimento, graça, também por meio de nossos bebês, incapazes de tantas coisas, mas dotados de tantas façanhas de felicidade. Cabe porém a nós, não nos apegarmos demais a isso, refreando a tentação de tentar se manter venerada a qualquer custo, usando disso para tapar as lacunas de feridas que carregamos.
Queira Deus que nossos filhos nos achem em seus próprios olhos, dignas de amor, respeito e honra, mesmo quando nos olharem como pecadoras, só assim poderemos caminhar junto a eles, em graça, percorrendo a corrida que nos foi proposta até o fim.
“Falava ainda Jesus à multidão quando sua mãe e seus irmãos chegaram do lado de fora, querendo falar com ele.
Alguém lhe disse: "Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem falar contigo".
"Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos? ", perguntou ele.
E, estendendo a mão para os discípulos, disse: "Aqui estão minha mãe e meus irmãos!
Pois quem faz a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe". (Mateus 12:46-50)
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