Ontem meu filho completou um mês. Foi um dia difícil, ele não dormiu bem suas sonecas diurnas, tive consulta pela manhã, meu marido teve um torcicolo dos grandes. Isso tudo foi somado ao meu intestino que anda lastimável, pelo fato de que ainda não me recuperei 100% da cicatrização do parto; também por estar há muitos dias sem exercícios, sem sexo, sem conseguir assistir um filme por completo ou ler um livro. Não me espanta que me sinta como uma panela de pressão, chiando com toda força pela válvula de segurança possível, sem explodir, para que ninguém se machuque.
Ontem meu filho completou um mês, e mesmo não sendo adepta dos mesversários, achei que seria legal tirar uma foto da data, mas como, em meio ao caos do dia? Tirei metade da roupa que ele usou na consulta para garantir que em algum momento o vestiria novamente para a tal foto; o dia rolou, muito choro, muitas coisas e o final de tarde era minha última tentativa de pegar uma luz boa para a tal foto. Mas o aconselhamento que meu marido havia saído para fazer demorou mais que o esperado, eu teria que dar banho, dar de mamar e tirar a foto sem auxílio dele. Corri e montei o minúsculo cenário no chão, quando fui pegar meu filho, para meu desgosto, ele se pôs a chorar, afinal, era hora de mamar mais uma vez. Tentei de tudo para acalmar, sem sucesso, até que em determinado momento, com raiva em meu coração, olhei para seu pequeno rosto e disse: “custava muito, era só uma foto, que droga...”
Pior que desgosto e raiva, é a culpa. Depois de dizer coisas insanas, como se um bebê de um mês pudesse compreendê-las, calmamente o coloquei em meu peito para mamar. Então o Espírito Santo me lembrou que meu filho não precisava de uma foto, meu papel era saciar sua fome naquele momento. Enquanto ele estava em meu colo, minhas lágrimas caiam em seu corpinho, numa vergonha intrusa, num estranhamento de mim mesma. Ao mesmo tempo senti um reconhecimento de quem sou eu quando a coisa aperta, quando meu calo dói.
Era só uma foto, mas em meio a tantas coisas que me pressionam nesse momento, foi ela o pivô que fez meu domínio próprio sumir. Olhei para o meu filho, pobre menino, que mãe ele foi arranjar! Como posso ter raiva de algo que obviamente não daria certo? Como é fácil o colocar em alguma idealização ou torná-lo a causa de alguma frustração!
No fim, eu consegui tirar a tal foto após uma mamada; não ficou boa, mas me contentei com o que deu. Estava péssima, olhando para Judá; ele sorria e eu me pus a sorrir em meio às lagrimas amargas, rodeadas de uma multidão de pensamentos. Nossas falhas, quando aparecem, costumam chamar todas as outras à comparecer, e logo um coral se forma nos lembrando tudo de ruim que podemos fazer.
Nós falamos muito sobre as dores que nos sobrevém na maternidade, mas é importante entender como despejamos nos nossos afetos o mal que habita em nós, tendo como trampolim as demandas que nos rodeiam nesse lugar. Nossos filhos mais velhos, nosso marido, nossa mãe, até nosso pequeno bebê vira alvo das frustrações, fruto das nossas idealizações.
Idealizamos, mesmo que inconscientemente, a forma como as coisas precisam acontecer, como os nossos devem se portar, como o contexto ao nosso redor precisa cooperar com nossas vontades, necessidades ou até caprichos. E em tempos de rede social, os caprichos tomam boa parte de nossa idealização do que postar.
Meu pequenino filho não precisava de uma foto, da mesma forma como nossos filhos não precisam que gastemos nossas forças e rios de dinheiro com brinquedos, roupas ou festas de aniversários, dos quais eles sequer lembrarão. No fim, se formos honestas, tem mais a ver com a gente do que com eles, tudo que não é prioridade, mas damos valor demais, denuncia nossas faltas, nossa visão limitada e viciada de se apegar ao que não é eterno.
C.S. Lewis escreveu: “Tudo que não é eterno, é eternamente inútil”. Pode ser bonitinho, legal, algo que todo mundo faz, que está em alta ou que queremos despretensiosamente fazer, mas ainda assim, inútil.
Sigo me sentando em meu sofá de hora em hora para amamentar, atendendo choros que parecem inacabáveis ou permitindo que meu filho durma no meu colo, já que foi a única coisa que deu certo. Tudo isso, em sua simplicidade, mesmo cansativa e brutal as vezes, é a prioridade no momento. Prover o que Judá necessita é o que ressoará na eternidade, o restante é apenas purpurina que o vento da vida levará: por um tempo é linda, mas logo se dissipa. Preciso desde já dizer ao meu filho o que realmente importa.
“Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas.” (Mateus 6:33)
texto perfeito