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Writer's pictureBRUNA DIAS

Uma Culpa Que Cura


Quando eu estava grávida do meu segundo filho, desejei escrever sobre a chegada de um irmão. Na minha cabeça, eu idealizava um livro infantil, e tem até nome – logo eu, que nem o de adulto finalizei –, minha mente estava fervilhando de ideias. Até convidei uma amiga, que já era mãe de três, para seguir jornada comigo nesta missão. Não sei se esse desejo era fogo de palha, se eu estava sonhando alto demais ou se no fundo, bem no fundo, Deus tem negócio comigo nessa área. Só sei que com o passar do tempo, fui engolida pelos afazeres – “Marta, Marta!” –, e esse desejo foi minado, pelo menos por hora, pois o foco total está no livro atual. Mas enfim, esses devaneios me fizeram refletir no tema central desse texto: irmãos.

 

Ouvi dizer que o filho do meio tende a “descobrir o mundo” por si só; os mais velhos, são ensinados primorosamente lá no comecinho, e com o passar do tempo e a chegada de outro, ou outros, tendem a serem os “mais cabeças”, naturalmente ocupam um lugar de serem “responsáveis” pelos demais, cobrando mais, e na mesma proporção, sendo mais cobrados. Enquanto os caçulas, atraem grande parte da atenção de seus pais para si. Não que exista uma predileção dos pais por algum filho específico. Entendemos que cada filho é um filho, tendo necessidades diferenciadas, o que o tornam únicos. E o que funciona pra um, talvez não funcione para todos. Daí, então, cabe dizer que o amor se multiplica de acordo com a singularidade de cada qual.

 

Lembro que certa feita, a caminho da EBD (Escola Bíblica Dominical), eu estava sentada no banco de trás, entre a Angélica e o Ricardinho, que ia quase dormindo. Olhei para um filho, olhei para o outro,  e percebi naquele momento, o quanto cada um é amado igualmente, porém, com necessidades muito peculiares. E naquele lugarzinho, entre um e outro, eu agradeci a Deus por tê-los como filhos.

 

Suavemente, toquei na mãozinha da minha filha mais velha e fiquei ali, acariciando aquela mão que vi crescer. Apreciei os detalhes: seu tom de pele, o contorno de sua veias, suas unhas e a maciez daquela pele infantil. Quase chorei, pois um filme passou na minha cabeça; aquela menininha das mãos crescidas é a minha primogênita.

 

Seus olhos brilharam ao receber aquele carinho inesperado. E eu agradeci a Deus, pela dádiva de ser mãe, pois apesar dos meus deméritos, Ele me escolheu para ser mãe de três flechas.

 

Dias depois, ela me perguntou se eu estava bem, e o motivo de eu ter ficado acariciando sua mãozinha – como se houvesse algum motivo específico ou ocasião especial para receber afago. Eu disse que estava tudo bem, e só estava fazendo um carinho, pois ela é minha filha, e a minha filha mais velha.

 

Percebi a importância desse contato “um a um”, e nesse momento, não vou negar que uma culpa veio sobre mim. A culpa de achar que eu não estava sendo a mãe que a minha filha mais velha estava precisando que eu fosse. A rotina com o filho do meio estava me engolindo, e por vezes, negligenciei nossos momentos “um a um”. Conversas despretensiosas, leituras em voz alta após o almoço, e os abraços demorados foram para o modo automático. Eu estava deixando escorrer entre os dedos nosso tempo de qualidade, e não estava me dando conta. Doeu.

 

Orei. Derramei perante Deus minhas faltas, e pedi para que Ele ajustasse o meu maternar, pois eu não queria ser uma mãe de três filhos criando muros, mas unindo pontes. 

 

Da mesma forma que senti na pele a falta daquela mãe de um – como nos velhos tempos –, e de todo o tempo que desfrutávamos juntas, ela também sentia, era nítido, por isso questionou depois, não na hora. Era evidente sua felicidade naquele instante mãe e filha.

 

Relembrando toda essa cena, percebi a importância do contato pessoal com cada filho. Isso me marcou profundamente, e para complementar essa certeza, recentemente li um texto de uma escritora que muito admiro falando sobre esse contato “um a um”. O texto se chama exatamente “UM A UM”, da Fernanda Witwytzky.

 

Aquela leitura veio como flecha em meu coração, me fazendo reviver o ocorrido, reconhecendo minhas misérias perante o Senhor mais uma vez. Foi então, que a necessidade de compartilhar essa vulnerabilidade com outras mães, foi mais forte do que a vergonha.

 

Se você é mãe de muitos filhos, sinta-se abraçada. Eu sei que a nossa caminhada é pedregosa, afinal, somos humanas. Erramos todos os dias, afim de acertar, é claro. No entanto, mesmo que em nossas melhores intenções, vamos continuar falhando. O sucesso em nossa caminhada materna não depende de fazermos tudo certinho, vem dEle. Educar um filho, tendo como base o Evangelho, é nos constranger em cada passo dado, entendendo que as bênçãos do Senhor não estão condicionadas a cumprirmos o papel da mãe que não erra, muito pelo contrário, está relacionada ao reconhecimento e dependência do Deus Criador; que criou a mãe e o filho, para serem moldados por Ele em cada estação vivida.

 

Viva suas estações com humildade e verdade. Ajuste as velas da embarcação, pedindo ao Senhor que seja o centro e a ponte que une a mãe ao filho, e o filho a mãe. 

 

No fim, todo peso da culpa se dissipará, transformando-se em aprendizado redimido, para a glória de Deus.

 

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