Minha conversão a Jesus é resultado do poder da mesa. Eu era apenas uma criança de 7 anos que amava quando a casa ficava cheia de visitas – morávamos no interior e minha mãe sempre cozinhou bem, então isso era corriqueiro.
Minha família já não frequentava nenhuma igreja quando fui apresentada ao evangelho, através de um amigo de nossa família. Ele se hospedava conosco com certa frequência, porque era representante comercial e vendia seus produtos para a mercearia do meu pai. Ele era também, um missionário apaixonado. Fazia de suas viagens à trabalho, oportunidades de conhecer a igreja local para ali compartilhar a Palavra. Acompanhado de sua esposa, aproveitava cada refeição para orar conosco, dividir poderosos testemunhos e nos impactar com a sua alegria.
Recordo-me claramente das suas boas risadas e do sorriso que estava sempre em seu rosto. E o mais interessante: as lembranças que tenho desse casal precioso em nossa casa são todas de quando estávamos ao redor da mesa! No café da manhã, no almoço ou jantar, sempre encontravam motivos para orar. Pediam para que nosso lar fosse abençoado por lhes receber, agradeciam pela boa viagem e por estarmos juntos novamente.
O poder daquela mesa não estava na comida, simplesmente. Não estava na mesa posta ou na louça especial. A mesa nos deixava à vontade, adultos e crianças. A mesa nos reunia e nos presenteava com o tempo para conversar e para que Jesus fosse compartilhado conosco.
Meus pais não faziam ideia que estavam hospedando anjos. Não faziam ideia do quanto nossas vidas seriam marcadas por aquela amizade.
“Estejam bem uns com os outros, unidos pelo amor, sempre prontos para oferecer uma refeição ou uma pousada, se alguém precisar. Pois alguns receberam anjos em casa, sem o saber!” (Hebreus 13:1-2)
Eu fui a primeira pessoa da família a aceitar o convite de ir ouvir esse amigo pregar na igreja batista vizinha à nossa casa. Eu aceitei Jesus com tanta convicção no momento do seu apelo, que tenho esse dia gravado nitidamente em minha memória, apesar de tão pouca idade. A partir de então, esse meu "pai na fé" investiu no meu discipulado.
Ganhei deles minha primeira Bíblia, o livrinho de músicas "Cantor Cristão" - indispensável para os cultos na época - e meus primeiros discos gospel de vinil.
Fui batizada aos 12 anos de idade e nunca saí da presença de Deus.
Hoje, eu e minha casa servimos ao Senhor. Meu marido, meus filhos e eu, servimos a Deus justamente recebendo pessoas em nossa casa para que possam conhecer esse mesmo amor que também me alcançou em uma mesa de jantar!
Nós compreendemos que pertencemos a um Deus que nos atraiu e nos fez família ao nos dar lugar em sua mesa. Portanto, abrimos a nossa casa para receber semanalmente uma “célula” - um grupo de comunhão, que come, brinca, estuda a bíblia e ora - e ali temos testemunhado vidas de "conhecidos ou desconhecidos" se rendendo a Cristo, sendo transformadas, curadas de suas dores emocionais ou físicas. Temos visto, de fato, Deus fazer solitários se tornarem nossa família, como escrito no Salmo 68.
Essa tem sido a forma da minha família praticar a hospitalidade. Mas existem tantas outras! O livro “O Evangelho e as Chaves de Casa” me despertou a refletir como nossas casas, igrejas e cultura seriam diferentes se todo cristão compreendesse o chamado bíblico à hospitalidade. A autora chama atenção para o fato de sermos uma geração de vidas ocupadas com atividades incessantes, de pertencermos a igrejas preocupadas com muitas programações. Mas isso mesmo revela a urgência do retorno à hospitalidade, à necessidade das famílias cristãs a praticarem e possuírem a marca de serem hospitaleiras.
O poder da mesa na hospitalidade está em recebermos pessoas em nosso lar com um propósito bem definido: vivermos um ambiente de fé, de modo que, se esse ambiente recebe cristãos, esses terão sua fé fortalecida. Se esse ambiente de fé recebe não-cristãos, esses terão oportunidades de ouvir sobre o evangelho e serem tocados pela presença de Deus que se manifesta ali.
Ao receber pessoas em nossas casas, temos a oportunidade de mostrá-las o que temos de diferente, como a nossa família funciona que vai na contramão dos lares que não são cristãos. Ainda que imperfeitos, ainda que revelando nossas vulnerabilidades, há uma paz que emana de onde o Senhor é Rei, e que pode causar muito impacto.
Ao praticar a hospitalidade bíblica, além de fazermos a vontade de Deus, temos a oportunidade de mostrar aos nossos filhos que não concordamos com o distanciamento e egoísmo que o mundo tanto incentiva. Eles podem crescer presenciando gestos de amor e doação, aprendendo que o “estranho” é nosso próximo, e a ver o próximo como família de Deus.
Que tal fazer uma oração quando terminar de ler esse artigo, por um desejo sincero de praticar essas verdades em seu lar, para que seus familiares amem praticar a hospitalidade juntos?
Não pense que sua casa deve estar perfeitamente mobiliada e seu armário cheio de itens de mesa posta. A agitação ou bagunça feita pelas crianças não devem impedi-la de experimentar do poder da mesa ao ser hospitaleira! Foque no que você tem para dar e não no que não tem. Você tem Jesus!
Se você puder ser hospitaleira com alguém essa semana, como faria isso? Vai convidar para um bate papo, servir um café e simplesmente demonstrar amor? Vai propor um lanche para ao final oferecer uma oração?
“Aquele que pratica a hospitalidade bíblica vê sua casa não como sua propriedade, mas como uma dádiva de Deus usada para o avanço do Seu reino.”
Rosaria Butterfield
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