Nunca imaginei que algum dia eu poderia estar falando sobre esse assunto: depressão. E não em termos gerais, mas a minha depressão. Normalmente vemos essa situação acontecendo com outras pessoas e pensamos que nunca chegará até nós, mas por aqui ela chegou.
Eu lembro de ter passado por fases difíceis antes da maternidade, em uma delas, entendi que era hora de começar terapia, o que me ajudou de fato, e as coisas foram melhorando. Quando engravidei, um turbilhão de emoções chegaram; fui alertada a respeito de infinitas situações que podem ocorrer com a chegada do bebê, mas pouco se fala sobre o cuidado que precisaremos ter com nossa mente e emoções.
O preparo que faltou
Me preparei muito emocionalmente para o momento do parto, e pela graça de Deus, deu tudo certo. Mas hoje, olhando para trás, vejo minha falta de preparo para o que viria depois, não que seja exatamente possível nos prepararmos para enfrentar uma depressão. No entanto, podemos sim nos armar usando a Palavra e o conforto do Senhor, quando os dias cinzas chegarem.
Hoje percebo que tudo aconteceu de forma muito silenciosa e sorrateira. Alguns fatores foram gatilhos para esse quadro: uma amamentação muito difícil no início, exaustão extrema, noites mal dormidas, dias inteiros sozinha com meu bebê (é importante falar que o “sozinha” era por que eu me esquivava de qualquer pessoa que tentasse nos ver). Tudo isso, associado a uma nova fase da vida que eu estava descobrindo – e ainda estou.
O início da descida
Pensamentos intrusos começaram a aparecer, e a sensação de que eu não estava dando conta de ser a melhor mãe e esposa era constante. Mas me mantive calada. Eu não compartilhava sobre o que se passava em minha mente com ninguém. Voltei ao trabalho, meu filho foi para a escolinha e minha mente estava sempre muito ocupada, na verdade, distraída com afazeres do trabalho e da casa. Eu não tinha tempo para lidar com isso – pensava enganosamente.
Sendo bem sincera, eu não tinha intimidade com Deus nessa época. Eu fazia no máximo, uma oração rápida quando ''tinha tempo''. Minhas distrações me fizeram esquecer que o único capaz de me dar forças era Ele.
Até que meu filho adoeceu e precisou ser internado em uma UTI. Foram dias horríveis. Me senti impotente vendo meu filho sofrer tanto. Eu não conseguia fazer nada para mudar aquela situação. Foi aí que eu me "lembrei" que existia um Deus, um Deus do impossível, que me ama sem me pedir nada em troca. Em uma noite, a pior da minha vida, vi meu filho sem reagir, e saí gritando por ajuda pelos corredores daquela UTI.
Quando os médicos chegaram, eu saí do quarto e me ajoelhei pedindo socorro a Deus. Ele me ouviu, e respondeu misericordiosamente. Dois dias depois, estávamos em casa. Fui então lembrada da GRAÇA de Deus. Percebi que o Seu amor e cuidado por mim não mudava. Ele ainda me amava e cuidava de nós.
Idas e vindas
Os meses se passaram. Eu acabei trocando de emprego duas vezes. Em uma dessas trocas, fui demitida – e um dos motivos era a ausência por precisar ir cuidar do meu filho. Entre essas mudanças de emprego, fiquei 3 meses em casa. Tudo pareceu melhorar naquele tempo em casa, consegui me conectar com meu filho e cuidar da casa como eu gostaria, mas ainda existia aquela "vergonha" dentro de mim. Afinal, não estudei tantos anos para largar tudo e cuidar da minha casa. Rejeitei vários conselhos de pessoas cristãs que me falaram o quão melhor seria ficar em casa, que era um privilégio por um curto tempo. Mas eu não confiei que o Senhor me daria provisão financeira; Ele já estava me falando que era o que devia ser feito.
Voltei a trabalhar, num horário horrível e longe, chegava todos os dias em casa tarde, e ele já estava dormindo. 6 meses depois, estava cogitando novamente a hipótese de ficar em casa e eis que surge uma nova vaga, mais uma distração, com horário melhor e perto de casa. Logo pensei: bênção do Senhor! Ledo engano, 5 meses depois, estava eu novamente em casa. Perdida e sem conseguir enxergar o que Deus estava querendo me mostrar.
Perdida mais uma vez
Ao longo desses dois anos, desde o nascimento do meu filho até agora, eu me perdi. Me perdi de Deus e do seu amor. Aos poucos, fui me percebendo cada vez mais triste, cada vez mais distante de pessoas que eu amava. Eu sempre fui uma pessoa que ama estar com os amigos, e de repente, não queria mais ninguém por perto. Ignorava o contato das pessoas e não respondia mais, nem mesmo as mensagens. Meus risos, antes tão constantes, agora eram raros e brincava muito pouco com meu filho.
Lembro-me de um fim de semana em que eu não tinha mais forças nem para me levantar da cama, pedi que meu marido ficasse com meu filho, pois eu precisava ficar deitada em um quarto escuro chorando. Demorei para procurar ajuda, demorei tanto, que logo, mais pensamentos ruins tomaram conta de mim. Havia uma luta aqui dentro, entre luz e trevas, e eu não conseguia nem mesmo pedir ajuda de pessoas próximas.
Socorro sempre presente
Um dia, depois de relutar muito, finalmente me abri com meu esposo, e dali pra frente, inúmeras coisas aconteceram. Procurei ajuda profissional e principalmente espiritual. Tenho entendido que o tratamento é muito importante e vejo a mão do Senhor em cada etapa.
Sigo trazendo à memória que "para cada dia há o seu mal" (Mt 6: 34). Estou muito melhor do que há 2 meses, mas entendo que essa é uma luta que ainda precisa de muita cautela. Conversando com a Jei, resolvi que deveria compartilhar mais desse assunto, porque ele é pouco abordado, e falei mais sobre isso no episódio do podcast que foi ao ar nesta semana.
E sei que assim como eu, tem muitas mães sofrendo sozinhas. Por muito tempo me senti "fraca" pensando que se muitas mulheres aguentam, por que eu não poderia aguentar? Ou então que eram apenas os hormônios que estavam desregulados. Mas não, saúde mental é coisa séria e nós precisamos falar disso. Não há nada de errado em precisar de medicação e terapia, busquem ajuda profissional. Também busquem auxílio espiritual na sua igreja local, com certeza existem mulheres que poderão lhe ouvir. Não sofram caladas, Deus nos deu ferramentas para lutar nessa batalha, vocês não estão sozinhas.
“Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia”. (Salmos 46: 1)
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