Um tema muitas vezes polêmico e regado a julgamentos. De um lado, mães que não aceitam o fato de que mulheres sejam tão encantadas e motivadas na vida profissional a ponto de não dedicarem grande parte de seu tempo na criação dos filhos. E do outro, profissionais que não entendem como ainda existem mulheres que lançam mão da jornada na carreira e desistem do mercado de trabalho, mesmo que gostem e se sintam realizadas, para ficar com seus filhos. De fato, sem empatia e respeito ao contexto (da vida toda e da situação em questão) parece ser impossível entender esta equação. É sobre estes contextos que quero trazer algumas reflexões. O mundo é feito de histórias com as mais diversas particularidades. Gente com sonhos e propósitos únicos e legítimos. Famílias com as mais amplas e complexas necessidades. E por aí vai nessa linda mistura que é a vida em sociedade embaixo do céu.
Sobre as mais diversas mães de plantão, podemos listar algumas situações:
“Preciso trabalhar para prover ou complementar a renda, querendo ou não”
Neste cenário estão muitas mães que dedicam a maior parte de sua vida no seu trabalho formal, por assim dizer. Levam seus filhos pequenos à uma creche e, se mais grandinhos, para a escola e lá se vão batalhar pelo sustento, ora para complementar a renda da casa, ora para prover todo o sustento da família. Esta mulher por vezes é tomada de culpa por não ter tempo suficiente com suas crias. Leva o filho dormindo e busca já “jantado”. Muitas vezes não há como sair da situação, por mais que ela queira. Uma das reflexões possíveis para mães que vivem esta realidade é a de que tempo de qualidade não quer dizer necessariamente horas a fio ao lado de seu filho ou filha. É garantir que está de fato presente nos pequenos momentos juntos. Voltar da escola cantando, ouvindo com atenção e desfrutando de cada palavra ou da sensação dos dedinhos aninhados na mão. Sentar no chão e brincar! Ser um cavalo, fazer cócegas e dar risada. Fazer do banho uma grande festa. Ler e deitar junto. É tempo de vida bem vivida, mesmo que seja pouco tempo!
“Dedico todo meu tempo aos meus filhos, abro mão da carreira sem problemas”
São as mães de tempo integral de plantão, especialmente as com filhos pequenos. Aquelas de quem o povo fala: “Cansada? Mas só fica em casa com os filhos!”. Ah, essas mãezinhas têm tantos desafios. Muitas vezes uma vida solitária sem muito contato com adultos para conversar. Com pouco tempo para si, mesmo que seja um café corrido na esquina... Cada saída é um grande evento! Bate as vezes a insegurança sobre a vida profissional negligenciada e sobre seus próprios valores sociais. Tachadas por vezes de exageradas ou antiquadas pela conduta materna. “Ela decidiu viver assim e não pode reclamar”. Para elas, há algumas boas reflexões: que o sonho de maternar em tempo integral é legítimo, lindo e muito nobre, quando se quer e pode! Também que o “ser mãe integralmente” não é bem uma questão de tempo... pois em contraste às mães que precisam trabalhar, há quem esteja 24 horas ao lado dos filhos e não dedica tempo de qualidade ali. É o celular, a limpeza ou organização da casa ou a televisão que podem roubar a preciosa atenção. Não estou falando que precisa haver uma sufocante dedicação, mas vale a análise cuidadosa de cada coração.
“Amo maternar, mas gosto muito da minha vida profissional”
Eu estou neste grupo! Aqui vivem algumas sombras de dúvida sobre a verdadeira vocação. Já me peguei me culpando por estar feliz demais trabalhando. Já me peguei assustada com a indiferença que senti com um assunto estratégico de negócio. Olhava uma planilha e logo depois uma foto da filha... Me sentei para brincar com a filha e me veio ideias incríveis para alavancar meus projetos! Aí aprendi a beleza do equilíbrio e da benção de ser alguém tão complexa que só comprova a criatividade e grandeza de Deus! Eu posso ser as duas! Mãe e profissional. (Na verdade todas sabemos que há muito mais papéis além desses). Alguém que edifica seu lar e ajuda também na edificação da sociedade em que vive.
Ainda nesta esfera, precisamos apenas construir dentro de nós a consciência de que em certos momentos o papel “mãe” será mais demandado e amplificado! Não anula os demais, mas traz certas responsabilidade e decisões importantes, como por exemplo quando até a própria lei nos assegura uma licença maternidade. Além disso, existem outras situações em que nossa família clama alto ou silenciosamente por atenção total e especial. Para isto, vale conversar muito com Deus, pedir Seu auxílio e para o Espírito Santo trabalhar deixando-a sensível às necessidades de quem você ama. Não existe fórmula mágica e sim um relacionamento verdadeiro com Quem sabe o qual o melhor passo a ser dado. Ali o vale da sombra da dúvida se dissipa.
Este universo das mães que trabalham ainda tem desafios como a desigualdade salarial, dificuldades para conciliar de forma prática a maternidade e carreira, a falta de apoio, e até mesmo preconceito. Segundo uma reportagem recente da revista Crescer, várias pesquisas indicam que, no mercado de trabalho, o panorama das mulheres que não têm filhos é bem diferente daquele das que são mães.
Um amplo levantamento, realizado em 2006 pela socióloga Louise Marie Routh com profissionais com título de MBA, nos Estados Unidos, mostrou que 36% delas afirmaram ter tido uma interrupção na progressão de suas carreiras depois da gravidez, enquanto suas colegas sem filhos seguiram numa trajetória de promoção e aumento de prestígio. Se entre homens e mulheres ainda há diferença, entre homens, mulheres e mulheres com filhos a distância entre igualdade de oportunidades é ainda maior. O que eu quero dizer com estas informações bem difundidas e já sabidas por todos nós? Que este contexto todo pode nos trazer sensação de injustiça, chateação, frustração e insegurança frente nossa vida profissional. E quem estará interessado com toda nossa carga de sentimentos? Ele mesmo: nosso Pai amado nos conhece e sabe exatamente quem somos, nosso potencial tanto como mães quanto como profissionais.
Além disso, temos uma identidade imensamente valorizada com Ele e nada neste mundo poderia nos preencher e completar mais do que Sua Vida e nossas vidas. A reflexão neste ponto é de que Deus nos ajuda no equilíbrio entre os papéis que desempenhamos, ajuda na execução e também na realização pessoal da nossa vocação.
Pois Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio. 2 Timóteo 1:7
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