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Maternidade Alicerçada - Parte 2



Vou contar-lhes algo sobre a Keila adolescente: ela planejou tudinho o que iria acontecer até seus 25 anos. Com 23 ela se casaria, com 25 teria filhos, certamente teria uma vida profissional (ela ainda estava definindo o que seria). Ela planejou tudo isso em um daqueles dias em que sonhava acordada e adormecia lentamente, imaginando sua vida adulta. Claro que sempre romantizando tudo. Vou lhes poupar dos detalhes, mas, coincidentemente, ela se casou aos seus 23 anos, e com 25, teve seu primeiro filho.


São poucas linhas para você perceber o quanto Deus dispôs de Graça sobre a minha vida. Deus, certamente, olhou para aquela menina sonhadora e disse: “de fato você está certa em algumas coisas, mas ainda não pode compreender o que EU, o Senhor, farei em sua vida”. Já dizia a música de um dos meus cantores favoritos: “Minha vida é obra de tapeçaria, é tecida de cores alegres e vivas que fazem contraste no meio das cores nubladas e tristes. Se você olha do avesso, nem imagina o desfecho, no fim das contas tudo se explica, tudo se encaixa, tudo coopera pro meu bem.”


Embora eu tenha planejado tudo isso naquele momento sonhador de adolescente, que não compreendia muito da vida, o Senhor me conduziu em graça, mesmo diante de tantas adversidades que sobrevieram em minha vida. Entretanto, eu me dei conta de que só havia planejado ter uma família, mas não havia me preparado para os desafios que tudo isso envolveria. Então, eu me vi diante de tantos desafios, sendo conduzida gentilmente pela mão do Senhor a uma compreensão maior do que eu poderia imaginar: “o coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa vem dos lábios do Senhor.” (Provérbios 16: 1) 


Eu tinha um plano: construir uma família. Mas se tudo dependesse das minhas habilidades, diligências ou sabedoria, consequentemente tudo viria ao chão, como muitas vezes o sentimento de: “está tudo desmoronando em minha volta”, foi real em minha mente. Sem dúvida alguma, esses momentos foram aqueles em que eu achei que poderia fazer qualquer coisa sozinha, sem depender da graça de Deus. Aliás, esse é um exercício constante em minha vida, tentar não tomar as rédeas da maternidade das mãos do meu mestre. Porém, esse é um treino de olhar, como bem tem exposto minha amiga Mirelli em seus artigos sobre Cosmovisão e Maternidade (leia aqui). É a maneira pela qual você vê a situação como um todo: Deus governa sobre TODAS as coisas.



Sem o Senhor, tudo é inútil


Antes de meditarmos no texto bíblico em questão, preparei um presente para você, que ajudará a compreender melhor a leitura. (Você pode baixá-lo aqui!)


“Se o Senhor não constrói a casa, o trabalho dos construtores é vão. Se o Senhor não protege a cidade, de nada adianta guardá-la com sentinelas. É inútil trabalhar tanto, desde a madrugada até tarde da noite, e se preocupar em conseguir o alimento, pois Deus cuida de seus amados enquanto dormem.”  (Salmos 127: 1 - 2)


Estes dois primeiros versículos nos mostram bem como é tolice acharmos que daremos conta de tudo, basta uma lista bem organizada das coisas, os materiais certos, o tempo certo, a oportunidade perfeita e voilà: eu fiz, eu executei, saiu tudo como eu planejei! Da mesma maneira, é tolice acharmos que nossas frustrações são causadas pela incapacidade de fazermos alguma coisa certa. Nós caminhamos pelos extremos, tentando nos consolarmos quando nos frustramos e nos exaltarmos quando nos saímos bem-sucedidas. O problema é que nós nunca chegamos ao equilíbrio das coisas. E para sairmos da polarização, é preciso compreendermos o que a Palavra de Deus nos diz. Observe o primeiro verso do Salmo 127, a palavra “se”, que inicia o verso, é uma conjunção subordinativa condicional, ou seja, estabelece um sentido de condição.


Por duas vezes, o salmista repete essa conjunção “se” para enfatizar que as ações de construir e proteger são inúteis, caso o Senhor não seja o agente dessa ação. Não é errado planejarmos nossas vidas, termos um caderno de organização para mantermos a ordem nessa vida ordinária. O grande problema advém de um coração que é rápido em roubar a honra que é devida a Deus. O teólogo Calvino, em seu comentário sobre esse texto, diz que Salomão tenta aqui nos corrigir desse tão perverso erro; ele nos mostra que nada nos acontece prosperamente sem que Deus nos abençoe em nosso procedimento. Já Charles H. Spurgeon, outro teólogo, diz: “A colher de pedreiro e o martelo, a serra e a plaina, são instrumentos inúteis a menos que o Senhor seja o Mestre de obras.” Este mesmo teólogo, ao comentar sobre esses versos disse: “Muito pode ser feito pelo homem; ele pode trabalhar e vigiar, mas sem o Senhor, ele não terá realizado nada, e a sua vigilância não terá impedido o mal.”  


Seja em nosso maternar, seja em qualquer outra área de nossas vidas, essa é a verdade: estamos sempre prontas para roubar a glória de Deus, sempre prontas a confiar em nossos próprios esforços e estamos constantemente nessa ida e vinda, aos extremos da idolatria do nosso eu – quer seja orgulhosas do que fazemos ou se vitimizando de não conseguir fazer. Sim, nós deixamos Deus de lado e adoramos a criatura no lugar do Criador, e vivemos nesse looping constante em nossa maternidade esperando pelo Salvador. A verdade é que a esperança não reside em nós mesmas, está em Cristo, e somente nEle. Mas também é verdade que, embora seja Deus quem está agindo, não devemos ficar inertes esperando as coisas caírem do céu. Eis a grande cilada que muitas de nós acabam caindo: "Se tudo vem dEle, depende dEle, por que eu devo fazer alguma coisa?". “É inútil trabalhar tanto”. 


Queridas mamães pela graça, Deus nos dotou de talentos e dons. Sim, o nosso trabalho árduo é resultado da queda, mas antes mesmo da queda, Deus já havia colocado Adão no jardim para trabalhar (Gênesis 2: 15). Com a queda, tudo se tornou mais penoso, e em nosso maternar não é diferente, há lutas, há dores, há noites mal dormidas, há partos complicados, amamentação dolorosa, há choro. E por mais preparadas que estejamos para enfrentar cada uma dessas particularidades, nada se aproveita se Deus não abençoar nossos esforços.


Pois Deus cuida de seus amados enquanto dormem” não denota passividade de nossa parte, mas sim, que todos os nossos esforços são um trabalho tranquilo, no qual aqueles que realmente creem, se submetem em obediência e fé. Quando dependemos da graça em nosso maternar, nossas lutas diárias, embora marcadas pelo pecado, não devem ser pesarosas e nem mesmo servir como triunfo para nossa própria glória. Não! Nosso maternar será um trabalho tranquilo, onde o nosso labor diário resultará em glórias ao nosso salvador. “Pois todas as coisas vêm dele, existem por meio dele e são para ele.” (Romanos 11: 36)


Querida mãe pela graça, eu espero que seu maternar seja firmado na graça de Cristo, na dependência diária dEle. Há muitas fases em nossa maternidade, há momentos alegres e prazerosos, e há os momentos difíceis, mas em todos esses momentos, há Cristo, em quem nós estamos todas firmadas.  



Referências bibliográficas:

Música Tapeceiro – Stênio Marcius

Bíblia NVT – Nova versão Transformadora

Série de Comentários bíblicos – Salmos - João Calvino 

Os Tesouros de Davi Volume 3 – Charles H. Spurgeon 




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