Nesses dez meses de maternidade que se passaram, eu fui absurdamente tentada a consumir.
Me inscrevi em diversas semanas do sono perfeito, quis comprar desde máquinas de tirar leite até brinquedos montessoriano aos montes. Sem falar dos aplicativos que baixei sobre saltos de desenvolvimento e os mais recentes de introdução alimentar. E têm as fraldas, tantas marcas para experimentar, modelos de mamadeiras e copos; lamentei muito as roupas da Carter’s que meu filho ganhou e já perdeu, comprar outras marcas me gera alguma frustração.
Ah, como é fácil consumir na maternidade. Atualmente minha tentação são os programas que prometem acabar com a diástase, ou " volte ao seu corpo de antes da gravidez".
Não sejamos inocentes, o mundo à nossa volta sempre nos quis ludibriar com roupas e sapatos, nossa maternidade não ficaria de fora, não ela, tão cheia de faltas e necessidades de compensações, tão ditadora do auto esquecimento.
Nesse lugar desconhecido e desconfortável, do qual sabemos muito pouco, nada como alguém que nos diga que podemos controlar o sono do nosso bebê, bem como garantir todos os estímulos que ele precisa e o cardápio perfeito: nada como uma voz dizendo que temos a opção de não errar ou de sofrer menos.
E no fundo, se usarmos de sinceridade, nossos almejos têm mais a ver conosco do que com nossos bebês, o que nos oferecem não visa em primeiro lugar o bem-estar de nossos filhos, mas acima de tudo: estão nos vendendo o nosso bem-estar.
Não é ruim que tenhamos tantas opções, mas é ruim que estejamos convencidas de que a maternidade só é possível assim.
Recentemente, em mais uma semana sobre o sono do bebê, uma afirmação era constantemente feita: "a maternidade não é instintiva". Isso me incomodou muito, fiquei pensando em como nossas avós e mães conseguiram maternar, caso isso estivesse correto.
Uma coisa é saber que podemos aperfeiçoar e até tornar mais leve o nosso maternar, outra, é acreditar que não conseguiremos maternar sem esses recursos.
A cosmovisão cristã explica: Deus nos fez com capacidade para sermos mães perfeitas. A questão é que nossa maternidade também foi afetada pela queda, logo, por mais que tentemos, vamos errar e sofrer muito nesse processo, porque aguardamos a redenção de tudo, inclusive de nossa maternidade. Isso quer dizer que todos esses sentimentos que nos angustiam nesse processo, não tem sua raiz na falta de conhecimento, mas na própria vida. Podemos ter todos os recursos, ainda assim, a nossa maternidade será muito falha e dolorosa e não devemos fugir disso a todo custo, há graça justamente para isso: para nos moldar por meio da maternidade também.
Fazemos parte de gerações que têm acreditado na mentira do ter para ser, isso não vai acabar tão já. Em muitas áreas de nossa vida, usamos o recurso de consumir para nos gerar um tipo de valor pessoal, e nossa maternidade é um solo perfeito para que nossos apetites sejam aguçados a consumir. Mas lembre-se que foi Deus quem nos permitiu esse lugar, para além de noites bem dormidas e cortes corretos de alimentos, há misericórdia todas as manhãs, e provisão para nós e nossos filhos na mão dAquele sem o qual, NADA podemos fazer, inclusive maternar.
Que texto inspirador, muito obrigada! Deus as abençoe!