A visão bíblica sobre nossas famílias oferece redenção. Para Deus, a família importa muito, tanto que Ele nos fez parte de uma bem grande; por seu sangue, os crentes em Cristo Jesus, são irmãos e irmãs, adotados pela Graça, por um Deus que também é nosso pai e deve ser nossa referência nos papeis que exercemos como parte de uma família.
O evangelho fala muito sobre os laços da família biológica, temos inúmeros relatos de pais, mães e irmãos, e essas histórias não são floreadas de contextos de família inteiras posando felizes num porta retrato. Antes, muitos nos falam de pais e maridos omissos, de mães e esposas complicadas e muitos filhos e irmãos ressentidos. Ser família é difícil, e por nossas próprias mãos não podemos fazer muito nem pela nossa, quem dirá por outras. Russell Moore escreveu que “se a família não estiver lhe causando algum sofrimento, é porque você não faz ideia do que se passa.”
A visão majoritária secular pós-moderna sobre família, parece tentar se basear na teoria do Contrato Social de Jean-Jacques Rousseau. Para além da liberdade defendida em relação ao estado, o pensamento atual tem trabalhado duro para garantir que as relações biológicas e os laços de sangue sejam menosprezados, que os indivíduos tenham a “liberdade” de, como em tudo, estar envolvidos numa relação familiar até onde lhes convém, assim como um contrato. Nancy Pearcey escreve: "Ao contrário do que disse Rousseau, não ‘nascemos livres’. Os seres humanos são, intrinsecamente, seres sociais que se desenvolvem na interdependência e no cuidado. Como observou o filósofo Bertrand de Jv l. VA n ir g. ouvenal, as teorias de contrato social ‘são visões de homens sem filhos que devem ter-se esquecido de sua infância’. Uma teoria política realista deve começar não com adultos racionais calculando os seus interesses, mas com o bebê indefeso que precisa de uma rede de amor e cuidado para tornar-se um adulto racional.”
Essa ojeriza pela família fica bem evidente na maneira como o divórcio é enxergado em nossa sociedade ocidental atual. A separação de dois cônjuges se tornou apenas o fim de um contrato e não a divisão de uma família. Na visão secular, não há espanto, antes, cada vez mais incentivo para algo tão triste, que marca a vida dos cônjuges envolvidos, machucando emocionalmente e de forma profunda tantos filhos nesse processo.
Alguns pensadores atuais acreditam que até mesmo os filhos, devam ter o direito de optar por ser ou não parte da família que nasceram. Pearcey nos dá uma dica: “A história mostra claramente que, quando os laços biológicos são menosprezados em favor da escolha, os indivíduos acabam perdendo o seu direito de escolha para o Estado. Exigir libertação dos relacionamentos naturais significa perder a liberdade para o Estado." A família, na visão pós-moderna, pode ser desmontada e remontada a bel prazer, ela é algo desconstruído e sem absolutos, como tudo o mais ao seu redor, apenas mais uma peça nesse tabuleiro.
Mas, para nós cristãos, a família não é um contrato, é um elo profundo, e mesmo afetada pela queda, ela é algo que Deus deseja redimir para sua glória.
É importante pontuar que vivemos em um tempo de supervalorização da maternidade; nunca fomos tão afirmadas em nossas demandas e em nossos sentimentos. O puerpério é quase um drama, essa função de maternar se tornou alvo de ativistas e comerciantes, somos vistas como nunca e isso tem seu lado bom, mas também pode nos levar a viver a maternidade de forma paralela a nossa família, ao invés de entrelaçada nela. Maternar é parte do ser família, isso não pode ser tirado de nossas vistas, mesmo sendo confortável e parecer até “justo”, que todos os olhares sejam voltados para nós nessa lida que é ser mãe. No fim, temos não apenas filhos pelos quais lutar, há um casamento que não pode apenas sobreviver, mas ser cultivado no exemplo de Cristo, inclusive pelo bem de nossos filhos.
“Família é batalha espiritual”, escreveu Moore em seu livro A família em meio a tormenta. O autor fala da importância de ter o reino de Deus acima de nossa família, entendendo que é olhando para cruz, que podemos ter esperanças para ela. Ele fala: “Nossa família é importante, mas não é um fim em si mesma. O diabo não liga para especialistas em casamento ou em criação de filhos. Ele não se importa com o orador da turma nem com uma estante cheia de troféus. Mas ele treme, sim, diante da cruz. O resultado final de nossa missão como família não é impressionar nossos colegas, mostrando que nossos filhos são bem-comportados o suficiente para não nos acordar durante a noite, mas sim que, assim como nós, eles foram crucificados com Cristo... A família é uma experiência de humildade. E de humilhação. Família é crucificação. É por isso que a família é uma das maneiras de Deus nos deixar pequenos o bastante para travar a batalha que não pode ser vencida por cavalos ou cavaleiros, mas pelo Espírito do Senhor. Nossa família nos molda. Nós moldamos nossa família. A cruz deve moldar ambos.”
Como cristãs, precisamos enxergar e interpretar tanto a família da qual viemos, quanto a que estamos formando pelas lentes do evangelho. Nossas marcas, dores, traumas, ressentimentos ou inseguranças não podem ser os norteadores dessa jornada em conjunto. Cristo é nosso guia, Ele sabe exatamente por onde precisamos andar nessa corrida que nos foi proposta, mas para isso precisamos olhar menos para nós mesmas, e junto aos nossos, focar na cruz, capaz de nos redimir.
Minha oração é que você abrace essa batalha por sua família, sabendo que “vocês são de Deus e os venceram, porque aquele que está em vocês é maior do que aquele que está no mundo.” (1 João 4.4)
Texto incrível. Amei