Saí da sala de parto com meu bebê mamando no peito. Ouvi das enfermeiras que tinha muito colostro, e Judá logo de cara mamou muito bem, então eu nunca pensei que teria os problemas que tive com a amamentação, bem como não sabia quanta angústia e culpa eu carregaria por conta disso, nos meses futuros.
No segundo mês amamentando, meu filho perdeu peso, diante disso, identificamos que ele não estava se alimentando o suficiente, comecei uma corrida por meios de melhorar a produção. Tentei muitas coisas, quase virei um algodão de tanta tintura de algodoeiro que tomei, além de chás, bombinhas, demanda livre, e essa coisa toda sem fim na idealização de quem acreditou no “culto” em prol da amamentação.
Muitas e muitas noites, ao tirar leite com a bombinha, eu revezava em festejar os 60 ml ou lamentar os 30 ml que eu conseguia tirar. Meu congelador tinha potinhos quase vazios, como um lembrete constante que eu não estava conseguindo suprir meu filho, que eu não estava fazendo certo, que eu não estava conseguindo resolver o que me impedia de amamentar. Carreguei esse peso nas costas, junto aos ecos das muitas vozes me lembrando do quanto era importante amamentação exclusiva, me comparando a amigas que postavam seus estoques de leite ao ponto de doar, tudo isso piorado com as mil páginas de amamentação que eu seguia.
Certa noite, senti que não tinha leite suficiente para o meu filho, pedi ao meu marido que comprasse uma lata de fórmula, mas lutei um pouco mais, a lata ficou dias fechada e eu já me via achando alguém para quem eu pudesse doar a fórmula na recusa do que se tornava cada vez mais óbvio: eu não iria conseguir amamentar exclusivamente meu filho, em algum momento eu teria que lidar com isso.
Próximo dos cinco meses, numa manhã, ao tentar amamentar, não consegui, e pela necessidade eu abri a tal lata, preparei uma mamadeira e dei ao meu bebê; chorei muito, me senti cansada, incapaz e insuficiente. Fui tomada de raiva quando percebi que Judá adorou a mamadeira (risos).
O drama não cessou aí, tudo o que acontecia de diferente eu colocava na conta da fórmula e na minha responsabilidade. Foram muitos desgastes, muito choro, tinha vergonha de tirar a mamadeira da bolsa para dar para o meu filho em público, me entristecia pelo valor financeiro que tinha que dispor nisso, pensando sempre que eu poderia ter evitado.
Me lembro de um dia, balançando meu bebê na cadeira para dormir, chorei copiosamente e disse ao Senhor: “tudo isso é culpa da amamentação. Estou exausta, se eu tivesse conseguido amamentar, eu não estaria assim”. Logo, um consolo imenso me cobriu, e o Espírito Santo sussurrou ao meu coração que a amamentação não era o problema, era a idealização que estava me impedindo de ser livre. Então, uma enxurrada de provisões veio à minha mente. Me lembrei de que não teve uma falta sequer nesse processo, do qual Deus em sua bondade sempre nos supriu, e ali eu comecei um processo de libertação na minha maternidade.
As pessoas constantemente perguntam: “ele ainda mama?” e eu reluto um pouco em dizer que não. Eu ainda carrego resquícios da tentativa insana de suprir completamente meu filho, mas as muitas coisas que saíram do meu controle nesses nove meses que se passaram, tem me colocado no meu devido lugar, e eu tenho conseguido viver os vislumbres da plenitude à mim oferecida, mesmo que eu a tenha recusado tantas vezes, na tentativa de lutar com minhas próprias forças em prol da minha idealização.
Seja na amamentação exclusiva, seja na fórmula, a graça está disponível para cada uma de nós e não há uma célula sequer dos nossos filhos, na qual Deus não tenha ciência. No fim, se somos suas filhas, nossa maternidade não é sobre amamentação, fórmulas ou qualquer outra coisa, é sobre Cristo: Ele é quem dirá o que será necessário acontecer para nos levar para mais perto de Deus nessa caminhada.
“Quando acabou a água da vasilha, ela deixou o menino debaixo de um arbusto e foi sentar-se perto dali, à distância de um tiro de flecha, porque pensou: "Não posso ver o menino morrer". Sentada ali perto, começou a chorar.
Deus ouviu o choro do menino, e o anjo de Deus, do céu, chamou Hagar e lhe disse: "O que a aflige, Hagar? Não tenha medo; Deus ouviu o menino chorar, lá onde você o deixou. Levante o menino e tome-o pela mão, porque dele farei um grande povo".
Então Deus lhe abriu os olhos, e ela viu uma fonte. Foi até lá, encheu de água a vasilha e deu de beber ao menino.”
Gênesis 21:15-19
Ahhh os caminhos tão diversos da maternidade e a graça de um Deus perfeito. Lindo texto.