Planos de Deus
Não estava em meus planos e nem em meus sonhos morar nos Estados Unidos, muito menos ter um bebê lá. Mas Deus configurou maravilhosamente esta história em nossas vidas e é com carinho, saudade e muita gratidão que olhamos para tudo o que aconteceu.
A ideia de morarmos fora começou a brotar por um motivo profissional e muito objetivo: fortalecer a empresa filial americana, estar mais próximo dos clientes e prospectar novos projetos na “terra do tio Sam”. Já tínhamos ido para lá nos anos anteriores e especificamente para Orlando em 2016, quando nos encantamos pela cidade e pelas oportunidades.
Em 2017 o planejamento tomou força e o objetivo profissional ficou pequeno perto da nossa necessidade como casal de experimentarmos o renovo espiritual, a graça de uma aproximação apaixonante e um período de dependência de Deus e Sua restauração em nosso relacionamento. De fato, Deus proveu tudo isto no tempo que preparou para nós naquele lugar tão especial. Embarcamos para nossa aventura em agosto de 2017 e os meses seguintes foram inesquecíveis, feitos de momentos que adoçaram nossa vida para sempre.
Antes de voltarmos ao Brasil para uma temporada de trâmites de visto, engravidei da Mel, o mais belo presente. A vontade de ser mãe nascera apenas uns 3 meses antes, pois antes a vida profissional estava em perigoso destaque. Mas como dito, a restauração na alma, na mente e no coração me convocou para este chamado maravilhoso da maternidade. Foi quando orei objetivamente “Senhor, agora eu quero muito ser mãe, queria muito que fosse ainda com 29 anos” e Deus me respondeu.
Estou grávida!
Melissa já estava na barriga quando nos despedimos das montanhas russas da Universal em grande estilo. Eu iria descobrir que estava grávida apenas uns 15 dias após nossa chegada no Brasil. É tudo muito intenso e emocionante neste comecinho, principalmente na primeira gestação. Ficamos extasiados e felizes com a notícia da gravidez. Ao mesmo tempo, a empresa estava passando por um momento complexo e delicado. Danilo estava desfazendo a sociedade na época, alguns projetos foram cancelados, clientes inadimplentes... uma sucessão de fatos que poderiam muito bem tirar a paz e o ânimo. Foi ali também que me apaixonei ainda mais pelo Danilo, com sua postura de fé, esperança e segurança no Deus do Impossível. Neste contexto todo, nosso plano de volta para os Estados Unidos estava ameaçado. Estávamos num completo “limbo”. Nem lá, nem cá. Nossas coisas todas no nosso apartamento em Orlando, nós sem endereço fixo na temporada aqui no Brasil. Ficamos a maior parte do tempo com meus pais, também algumas semanas no apartamento da tia do Danilo, em Airbnbs, alguns dias na casa de amigos. Tive ainda um descolamento de placenta bem no início, que me exigiu repouso intenso em pelo menos 40 dias enquanto fiquei com meus pais.
Incertezas e coração dividido
O que era para ser um mês se transformou em cinco meses de espera, indefinições e incertezas. Metade de mim queria ir, metade queria ficar. A maior parte da doce espera da Melissa se deu no Brasil. Por mais que as coisas estivessem difíceis e incertas, fui tão rodeada de amor e nutrida de carinho pela família e amigos. Tive dois chás de bebê maravilhosos, uma chuva de afeto que me fez fizeram extremamente feliz e também balançar em deixar isso tudo e desbravar o início da maternidade distante e sem essas pessoas queridas. Quando meu pai conversou seriamente comigo, colocando a sua opinião que era de que ficássemos, meu mundo quase caiu. Chorei por 3 dias, pois o que ele pensava era muito importante par mim. Levantei disso buscando entender as preocupações dele e percebi que também eram as minhas: como seria o pré-natal lá? Como seria o parto? E como pagaríamos pelo parto nos Estados Unidos, sendo tão caro? E como seria ficar sem o apoio da família? E se algo desse errado? E se nos tratassem mal por sermos estrangeiros? Além de contar com a graça e fidelidade de Deus, fui buscando resposta objetiva para cada uma dessas questões, trazendo um alívio para os corações aflitos.
Volta para Estados Unidos
Em maio de 2018 saímos do limbo. Compramos as passagens de volta para os Estados Unidos. Voltamos para nosso cantinho na última semana de junho, quando eu estava na 24ª semana de gestação. Os três primeiros dias foram muito difíceis. Eu fiquei inundada pelas lembranças felizes dos meses anteriores no Brasil, com saudade antecipada de todos e me sentindo como um passarinho que caiu do ninho e não consegue voltar. Chorei muito. Fui até uma amiga e desabafei esses sentimentos com ela. Ouvimos juntas a música “9 meses” e choramos juntas. Aquilo me aliviou a alma e naquele mesmo dia voltei para casa pronta para o início daquilo que continuaria sendo uma doce espera. Que momentos preciosos que passei naquela cidade com a Melissa na barriga. A rede de apoio e carinho de Deus me cercou de tirar o fôlego.
Provisões do Senhor
Encontrei uma clínica com uma obstetra muito conceituada e que era brasileira, e, apesar de morar há 25 anos na Flórida, falava perfeitamente o português, o que me trouxe muita tranquilidade (como eu explicaria em inglês que sentia uma pontada, uma agulhada, uma fisgada? rsrs). O pré-natal foi excelente e até hoje me lembro do cheiro da recepção da Blessing’s Women, a máquina de café e das atendentes (algumas até falavam português). Tratamento humano e atencioso. As condições de pagamento também foram especiais e couberam, mesm que apertadas, em nosso bolso. Benção sem medida, um presente de Deus para uma mãe insegura numa terra distante. Fomos envolvidos por amigos queridos, americanos e brasileiros, alguns de longa data e outros que conhecemos quando a barriga já estava enorme. Fizeram papel de avós, tios, irmãos e anjos de Deus em nossas vidas. Uma das vantagens de lá eram também os passeios incríveis, as facilidades com enxoval e os chocolates bons e baratos.
Chegada da minha mãe e o susto
Além disso tudo, um calor especial no coração com a passagem comprada para minha mãe ir passar um tempo conosco no último mês de gestação e nos primeiros dias pós parto. Nada como uma mãe perto. É a pura extensão dos braços de Deus na terra. Minha mãe chegou na metade da 35ª semana de gestação. Era uma sexta-feira. Ela trouxe muitos mimos da galera e a animação para nossos passeios e aventuras. Porém, uma aventura chocante começou ainda na noite de sexta-feira, quando ela passou mal com arritmia cardíaca e foi levada ao Hospital Central Florida para consulta de emergência. Foi muito tenso. Já no início do atendimento haviam cerca de 11 pessoas na sala, monitorando e trabalhando no caso. Foi sufocante observar os batimentos do coração tão desregulados no aparelho e acompanhar a demora para retomar o ritmo normal.
Seguimos noite a dentro e apenas 6 horas da manhã (após intensa oração da mãe) que ela sentiu o alívio da cura, que pudemos também ver no monitor cardíaco. Mesmo assim, minha mãe ficou internada para realização de muitos exames e observação do caso. Foram 2 dias aprendendo o vocabulário médico, conhecendo enfermeiros e desfrutando do atendimento humanizado que nos foi dado. Eu, na reta final da gravidez, fiquei ali sem arredar o pé, preocupada também com a questão do seguro. Será que cobria todos os custos, estimados até então em uns 15.000 dólares? No domingo a tarde, já na proximidade da alta médica, comecei a sentir dores que pareciam de gases, bem suportável, mas estranha. Mas dores são normais no final da gravidez e ainda faltava um mês para o nascimento. Era o que pensávamos.
Chegada prematura da Melissa
Depois de toda a emoção que passamos, estávamos em casa novamente. Só então conseguimos abrir os presentes, ver roupinhas e o cantinho da bebê. Estávamos felizes e gratos à Deus. Minha mãe estava super bem e o seguro iria arcar com as despesas. No domingo a noite, algumas horas após a alta, fui dormir com aquela dor chata. Às 5 horas da manhã de segunda pedi para o Dan me trazer um remédio para gases, pois estava bem incomodada. Eu tomei ainda na cama e levantei para ir ao banheiro. Ali no banheiro mesmo a bolsa estourou. Foi um rio de água. Chamei o Danilo e nos olhamos com um misto de emoção, indescritível. “A bolsa estourou”! Minha mãe já começou a levantar e na calma dela disse “é, hoje que a Melissa vem”. Eu disse “Mas ainda falta um mês”. Fiquei com medo, mas muito confiante. Tomei um banho, me arrumei, terminamos de arrumar as coisinhas e partimos para o hospital, já com a barriga bem “murcha”. Liguei para a médica, que já se aprontou para ir me encontrar.
Encontramos uma equipe muito querida, atenciosa e dedicada ao nosso bem estar. Melissa viria prematura e eu não tinha dilatação e quase sem líquido. Decidimos em conjunto com a médica a cesárea e perto das 10h eu estava experimentando um momento inimaginável. Me senti no próprio “Grey’s Anatomy”, com aqueles médicos todos envolta de mim falando em inglês. Qualquer medo de um mal tratamento foi apenas um medo! Que profissionais queridos. Lembro com carinho, cada um veio falar particularmente comigo antes da cirurgia. Pegavam minha mão, se apresentavam e diziam qual seria a sua função ali comigo. Uma enfermeira me pediu um abraço apertado e caloroso enquanto aplicavam a anestesia. Durante o parto, acariciavam o cabelo, traziam panos quentinhos para os braços naquela sensação de frio horrível que é um dos efeitos da anestesia, se importavam em acalmar uma mãe tomada de ansiedade. De repente “She is out, she is out”! E minha filha estava chorando do lado de fora! Prematura com quase 3 quilos! Perfeita! Veio no tempo perfeito de Deus e nem precisou ficar em incubadora ou ter atendimento especial. Linda, saudável e envolta de amor em solo americado. Os dias ali no hospital foram muito bons. Apesar dos efeitos da anestesia e do pós parto, tivemos uma cobertura incrível de enfermeiros, pediatras e outros profissionais que nos atendiam o tempo inteiro.
Deus é nosso lar, não importa o lugar
Depois de 3 dias, após a alta, chorava ao deixar o Florida Hospital para trás, já com saudade e muita gratidão por tudo que vivi ali. Aliás, chorar após o parto faz parte da rotina, não é mesmo? Num turbilhão de emoções, vivi também uma falta da barriga, uma saudade da gravidez que só passou definitivamente quando chegou o tempo “certo” dela nascer, ou seja, um mês depois. Não sei ainda se isso é uma característica em mães de prematuros. Tivemos muita ajuda de uma rede de apoio incrível de amigos que vinham nos trazer deliciosas refeições, visitas com conversas gostosas e mimos. Até um lindo chá de boas-vindas organizado por amigas especiais. A maioria irmãos em Cristo, nos provando que a igreja viva habita em corações e não em edificações.
Os primeiros dias com bebezinho são difíceis e talvez um pouco mais difícil que o normal quando se está tão longe do lar. Mas aqui está o aprendizado: Jesus está em todo lugar! E quando em nosso coração Ele faz morada, podemos até encontrar aflições, incertezas e ansiedade, mas podemos estar certos de que Ele nos ajuda a enfrentar e cuida de cada detalhe com Seu amor leal. O coração aquecido de Deus sempre será nosso lar, não importa o lugar!
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