O bebê chegou! Depois de 9 meses (na verdade são quase 10!) esperando o grande dia, eis que o nascimento acontece. A mulher se torna mãe e o homem se torna pai, talvez já não de primeira viagem, mas sempre com um novas emoções e novos desafios pela frente. Momento de euforia da ida à maternidade, o parto, o primeiro chorinho e, no geral, dois a três dias com total assistência de enfermeiros, acompanhantes e visitas especiais. Então, estando tudo bem com a saúde da mãe e do bebê, a família pode ir para casa e, de repente, tudo ali pode parecer estranho e fora do lugar. Um amor muito grande sim, mas acompanhado de novidade assustadora, um novo tudo, um tudo diferente.
Acontece que, muitas vezes nos preparamos para a chegada do bebê com o enxoval, o quartinho, a licença maternidade, dicas de amamentação e sono, entre muitas outras coisas, e não nos preparamos para um momento inevitável: o puerpério, período de 45 a 60 dias após o parto. E por que deveríamos nos preparar ou ao menos entender um pouco mais sobre isso? Por que pode ser muito difícil e desafiador, para não dizer desesperador.
Algumas poucas sortudas têm o privilégio de sentirem pouco ''efeito'' do puerpério, mas a maioria das mães vive um dos momentos mais intensos e emocionalmente complexos de suas vidas e, não conhecendo sobre, se afundam em culpa, medo e ansiedade quanto aos próprios sentimentos.
Há ainda um termo bem difundido para este período, o Baby Blues. O termo vem do inglês, onde "Blues" remete a tristeza e é caracterizado por um estado de melancolia, apatia e extrema sensibilidade causadas pelas mudanças hormonais que ocorrem nesta fase. O choro fácil, os sentimentos de tristeza e irritabilidade normalmente se intercalam com momentos de alegria e satisfação, durando mais ou menos duas semanas desde o nascimento e atingindo de 50% a 80% das mulheres. Costuma desaparecer espontaneamente à medida que os hormônios vão se estabilizando. Porém, particularmente, e certamente muitos irão concordar, acredito que a culpa não seja apenas dos hormônios. Mesmo que estes nem se quer existissem, lidar emocional e mentalmente com a mudança abrupta na vida, com novos papéis e responsabilidades e a uma nova rotina tomada pela exaustão é, sem dúvidas, motivo legítimo para o blues materno. É um período delicado, que requer cuidado!
Cada experiência de puerpério é única. De uma mãe para outra e até de uma gestação para outra. No meu caso, o período pós parto da primeira filha, Melissa, foi muito mais intenso. Além do parto prematuro e estar fora do país, tive muitos conflitos internos ao viver o luto de uma vida que nunca mais teria. A ansiedade tomava conta de mim quando lembrava que dentro de algumas semanas eu ficaria sozinha com a pequena, pois minha mãe retornaria para o Brasil e meu marido iria viajar internamente nos Estados Unidos. Acordava a noite com medo paralizador, literamente. E chorava até não ter mais produção de lágrimas! Com o passar do tempo, os sintomas foram indo embora e a vida se ajeitou, não sem a graça e misericórdia de Deus em minha vida.
Para tentar trazer algum asuxílio prático para o período do puerpério, listarei a seguir alguns fatores que considero importantes para lembrar e executar, na medida do possível.
1. Lembrar que Deus se importa com você e quer seu bem
Sim, nosso Pai de amor se importa com nossos sentimentos e nos quer bem. Ele não é um ser insensível que ignora a dor de suas filhas. O salmista declarou "Como um pai tem compaixão de seus filhos, assim o Senhor tem compaixão dos que o temem" (Salmos 103:13). Muitas amigas minhas relataram sentimento de solidão com o resguardo necessário e até mesmo desamparo quando todos os olhares se voltam apenas à criança. Mas, como filhas de Deus, podemos ter a certeza de que ele está cuidando de nós com todo o carinho, independentemente se estivermos sentindo este cuidado ou não. A mente e as emoções podem distorcer a sensibilidade, mas não a realidade. E a realidade se dá na promessa de Jesus - que sempre estará conosco "...E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos". Mateus 28:20.
2. Entender sobre o puerpério e o autoconhecimento
Lembro de procurar no Google sobre o Baby Blues durante o meu puerpérioe ficar aliviada em alguns momentos, por entender racionalmente que era normal. Apesar de nosso raciocínio sofrer pressão de emoções, hormômios e sentimentos, é muito importante buscarmos entender teoricamente sobre o puerpério e tudo que implica esta fase. À rede de apoio próxima, principalmente o marido, também é recomendado conhecer detalhes e possibilidades do período para amparar e aliviar as cargas da mãe.
3. Oração
Todas as mulheres cristãs já sabem o quanto a oração é um recurso inegociável e infalível no dia-a-dia com Deus. Além da absoluta e indiscutível necessidade do derramar da nossa alma para Deus e seguirmos em verdadeiro relacionamenrto com ele, o que implica em genuínas conversas, a oração é também um caminho que nos ajuda a elaborar e processar o que está em nossa mente. Lembro de passear de carrinho com a Melissa recém nascida e orar, obviamente chorando, o perceber que, além da conversa com Deus, também avançava num caminho de reorganização mental apoiada ao agir do Espírito Santo. E se as forças estiverem acabado até mesmo pra orar, clame ao Senhor do jeito que conseguir e, genuinamente tenha o desejo de contar com a ajuda de Deus.
4. Rede de apoio
Se você for pesquisar sobre Baby Blues, imagino que esta será a principal forma de "tratamento" indicado no período. Realmente é um diferencial para uma mãe ter ajuda e retaguarda neste período. É ainda mais importante quando a mãe já tem outra(s) criança(s) pequenas. Diria que existem dois tipos de rede de apoio: A rede de apoio prática, composta pela família e pessoas próximas que estarão em contato, possibilitando oportunidades de descanso e ajudando nos afazeres domésticos e tantos outros que nascem junto com o bebê; e a rede de apoio extensiva, onde fazem parte pessoas com realidades parecidas, amigas empáticas e atenciosas e a família da fé. Digo isto por que me ajudou muito falar com minhas amigas que viveram ou estavam vivendo este momento. Dizem que uma das frases que mais curam e aliviam é o ''Eu também/ Comigo também". O suporte em oração de nossos irmãos também é muito bem vindo. Neste período não há lugar para o orgulho. Toda ajuda pode e deve ser aceita com a alegria de proporcionar aos outros a oportunidade de fazer o bem. Existem casos da não existência de rede de apoio, por motivos variados. Neste caso, penso que os outros pontos precisam ser ainda mais mais observados e seguidos.
5. Descansar quando puder
As mães já ouviram muito isso e, talvez, soe como algo impossível. Para mim foi muito difícil e quase não consegui no primeiro puerpério, o que contribuiu para intensificar os sintomas do Baby Blues. Já no segundo, quando estava indo para quinta noite mal dormida (e não pelos despertares da bebê, mas por ondas de ansiedade) resolvi aceitar a indicação de uma medicação (bem conhecida desde período pós parto) da minha obstetra e dormi pesado, um sono restaurador. Como fez diferença naqueles primeiros dias! Converse com a(o) médica(o) de sua confiança sobre como a medicina também pode ajudar. Durma quando o bebê dormir, mesmo que as tarefas fiquem acumuladas e atrasadas. Valerá mais a pena um corpo e mente descansados.
6. Aceitar os sentimentos e viver um dia de cada vez
Não se culpe e nem se assuste com seus pensamentos e sentimentos. Pegue leve com você e viva cada dia de cada vez. Sei que é muito mais fácil falar do que fazer, mas isto também é uma verdade bíblica. Mateus 6:34 diz que ''para cada dia bastam as suas próprias dificuldades". Um hábito muito bom para aliviar tensões é o Mindfulness, algo que pratiquei bastante no segundo puerpério. Como é incrível a benção de viver o presente.
7. Lembrar que tudo passa
Parece que nunca mais haverá uma boa noite de sono ou que sua rotina será eternamente maluca e exaustiva. Você deve ter ouvido ou lido muito a frase que "tudo passa"e essa é uma verdade implacável. Os momentos de tristeza, agústia e agonia se vão e os momentos de ternura e brilho dos primeiros meses do bebê também se vão, com todos seus prantos e encantos. Por um lado é um grande alívio e por outro é um gatilho para aproveitar cada instante. Rindo ou chorando, procure curtir ao máximo.
Importante ressaltar a existência da depressão pós parto, algo comum e natural no universo materno (não importa se é a primeira, segunda ou demais gestações). Caso seu Baby Blues seja insuportavelmente intenso ou os sintomas não passem em 45 dias (aproximadamente) não hesite em procurar atendimento psicológico. O serviço é ofertado até mesmo na rede pública de saúde. Entenda que não é fraqueza e nem deve haver tabu no fato de que a saúde mental precisa de tratamento assim como as doenças fisiológicas.
Finalmente, lembre de uma promessa e uma instrução bíblicas para seu coração nesta e muitas outras fases da vida materna.
"Venham a mim, todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso." Mateus 11:28 NTLH
"Por último, meus irmãos, encham a mente de vocês com tudo o que é bom e merece elogios, isto é, tudo o que é verdadeiro, digno, correto, puro, agradável e decente" Filipenses 4:8 NTLH
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